No
Evangelho do domingo passado, vimos o encontro de Jesus com a multidão e sua
compaixão diante da mesma que, para ele, era como ovelhas sem pastor. Esse
sentimento de ternura e compaixão fez com que ele interrompesse um momento de
descanso e retiro com seus discípulos, depois de uma missão, para ensinar
àquele povo. Hoje, há um novo encontro com uma multidão e a realização de um
dos grandes “sinais” por parte de Jesus. Muito mais do que um milagre, temos
nessa passagem um ensinamento.
No texto (Jo 6, 1-15) há uma forte
tendência de equiparar Jesus, o novo Moisés, com o Moisés da antiga Aliança.
Vários elementos como a Páscoa, a travessia do mar, a subida na montanha e a
fome do povo deixam evidente essa comparação. Para o autor deste texto, Jesus
é, de fato, o novo Moisés. Essa é a conclusão a qual o povo chega ao fim da
narração: “Este é verdadeiramente o profeta, aquele que deve vir ao mundo”.
Devemos nos aproximar, portanto, deste texto tendo em vista essa importante
chave de leitura.
Jesus, com sua grande sensibilidade,
se preocupa com o que a multidão que vem ao seu encontro haverá de comer. Ele
não se preocupa, portanto, como muitos gostariam, somente com a alma das
pessoas e com o alimento espiritual. Ele está também preocupado com o estômago
daqueles que ali estavam. A preocupação de Jesus atinge, portanto, o homem todo
e não somente uma parte do mesmo. Essa inquietação de Jesus, conforme o texto,
era uma forma de colocar seus discípulos à prova. Ele, como Moisés, sabia que
Deus haveria de alimentar seu povo. E assim foi.
A solução vem de forma bem simples:
um menino que traz a “ração” do povo pobre resolve entregar o que tem para que
seja partilhado. Ele poderia ter feito como toda aquela gente fez e guardado,
para si e para os seus, o que trazia. Mas ele quis fazer diferente. Para que
haja a multiplicação do pão é necessário que haja a partilha. É preciso que
cada um se disponha a repartir o pouco que tem. A atitude daquele menino foi
entendida como a solução para o problema que havia surgido.
O gesto de Jesus lembra claramente o
ritual da ceia eucarística. Isso não é, de maneira alguma, uma mera
coincidência. O autor quis mostrar que a verdadeira multiplicação dos pães
acontece a partir da ceia eucarística, quando os cristãos se comprometem a
viver conforme o se Mestre. Naquele dia não ficou ninguém como fome e ainda
restou 12 cestos de pães, número muito significativo. Também hoje se nós
cristãos vivêssemos a partilha, como aquele simples menino, não haveria tanta
gente passando fome e ainda teríamos excedente.
Jesus deixa claro como é o mundo que
ele deseja: um mundo sem famintos, onde todos têm o que comer e ainda há sobra.
Esse mundo só pode ser alcançado por meio do amor pregado por ele: “amai-vos
uns aos outros”. Sem este amor, nunca teremos um mundo saciado plenamente.
Afinal, a fome do mundo não é somente de pão. Precisamos
partilhar nossos bens, mas também nosso ser. Devemos perceber, como Jesus, as
necessidades das pessoas. A partir disso, buscar formas de ajudar a estas
pessoas. Com um gesto, uma palavra, uma atitude, ou mesmo até um silêncio é
possível saciar pessoas famintas e sedentas em nosso meio.
Como têm sido nossas celebrações
eucarísticas? O que buscamos, quando delas participamos? É preciso que elas
sejam momentos de vivência do amor comum e da partilha de bens e de vida. Se
não for assim, não podem ser chamadas de assembleias cristãs.
manoelgomescrn@yahoo.com.br
Um comentário:
Sem dúvida meu irmão você recebeu do Senhor a unção na explanação da Palavra. O segredo é esse, viver verdadeiramente o Evangelho e nada nos faltará, nem para mim, nem para vc, nem para a humanidade inteira. O Senhor já nos ensinou, precisamos segui-Lo. Abraço.
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