terça-feira, 24 de julho de 2012

A Experiência de Deus em Minha Vida, 1ª Parte






A “Experiência” de Deus Em Minha Vida
“Eu vim de lá do interior, aonde a religião ainda é importante. Lá se alguém passa em frente da matriz, se benze, pensa em Deus e não sente vergonha de ter fé.” Pe.Zezinho

1ª PARTE: A Minha Primeira Infância (do nascimento aos sete anos de idade)
Para relatar como se deu a “experiência” de Deus em minha vida, preciso fazer um grande esforço, pois ela começa há vinte e três anos. Para isso, peço a ajuda Dele, que tudo sabe, pois como poderei “voltar ao passado” sozinho e sem o auxilio Daquele que me acompanha em cada passo que dou? Então vamos lá!
Fevereiro de 1989, o cenário é um pouco diferente daquele que a maioria das pessoas esperam, pois minha vida se passou quase por completa, em um ambiente que, até hoje, para a grande maioria, é visto como uma área inferior (em todos os aspectos) à cidade. Cresci na zona rural.
Foi lá no Sítio Mocós, município de Calçado que, Maria do Carmo Gomes da Silva, hoje aos sessenta e seis anos de idade, conhecida por todos como “Môcinha”, saía de casa às pressas em direção à maternidade de Canhotinho (cidade situada na região agreste, no interior de Pernambuco) para dar à luz ao seu décimo segundo e penúltimo filho (sendo eu o oitavo daqueles que, com a graça de Deus, vieram então a sobreviver).
Daquela época pouco sei e, por isso, pouco posso relatar. Para mim, essa é uma experiência nova e desafiadora, pois minha família, mesmo sendo um pouco grande, não tem sempre o costume de contar histórias relatando o seu passado. Tampouco costumava registrar momentos através de fotografias (minha mãe conta que naquela época, tirar foto era coisa de rico, e nós não éramos e nem nunca fomos). Às vezes sinto falta desses momentos mesmo sem ter nenhuma lembrança física para recordá-los, gostaria de saber, por exemplo, como eu era nos primeiros anos de minha infância. Então, por eu ser o mais novo da família esse desafio torna-se maior ainda. Mas, apesar de tais dificuldades tentarei, ao máximo, ser fiel em minhas palavras.
Se hoje em dia a saúde já é precária, imaginem então a nossa situação há vinte anos e, ainda por cima, na área rural de uma região agreste, no interior do nordeste. A situação não era fácil. Por isso minha mãe perdeu alguns de seus filhos e, por pouco, não me perdeu também. Sofri muito nos primeiros anos. Mas graças a Deus hoje, com algumas marcas físicas do passado, estou aqui para contar a história.
            Minha mãe me conta que eu era muito doente e que sofria por ter o corpo quase por completo revestido de feridas. Naquela época era quase normal as crianças não terem saúde, devido às condições nas quais viviam. Vermes também eram frequentes, deles trago algumas lembras mentais já comigo.
                Creio que as primeiras recordações que tenho sejam de quando tinha por volta de quatro ou cinco anos de idade. Então para falar do que se passou nos anos antecedentes, faço minhas as palavras de Agostinho que no primeiro livro de suas Confissões nos diz: “Deixemos de lado esse tempo; que tenho eu a ver com ele, se dele não conservo menor vestígio?” (Confissões 1, 7, 12)
                Foi por volta dos cinco anos de idade que entrei na catequese, era bem próximo de casa em um pequeno salão comunitário. E, por ser um ambiente pequeno, (minha comunidade) acredito que todas as crianças participavam do catecismo. Lá todos são católicos, mesmo que seja apenas de nome. Foi uma época muito significante para mim, lembro até hoje da forma como as catequistas interagiam com a gente. Enquanto brincávamos e cantávamos, íamos aprendendo aquelas coisas básicas que todo pequeno cristão deve saber. Era só alegria. Quanta saudade!
                Com cinco anos de idade eu ainda não estudava, nem trabalhava. Não lembro bem o que fazia durante a semana, acho que ficava em casa assistindo, talvez. Os finais de semana eram os momentos que tínhamos para visitar os familiares (padrinhos, tios, etc.), então às vezes eu acompanhava minha mãe nas tardes de domingo. Quando não saia com ela, certamente estava brincando com alguns vizinhos, estes eram meus amigos.
                Recordo com muito carinho de toda a minha infância, acho que ela foi completa, me divertia muito. Na minha turma ninguém brincava de videogame não, acho que nem sabíamos o que era isso. Nossas brincadeiras eram pega-pega, esconde-esconde, bolinha de gude (que chamávamos de “chimbre”), tomar banhos de chuva, subir em árvores para comer seus frutos (que na maioria das vezes fazíamos escondidos dos seus donos. Lembro que aqueles frutos eram muito atraentes e apetitosos, não eram como os frutos que Agostinho fazia questão de roubar somente pelo prazer de pecado), etc.
                Ah! Lembro também que não tinha carrinhos de brinquedo naquela época, mas nem por isso nos faltava diversão: dávamos um jeito de improvisar alguns brinquedos com o que tínhamos por perto, como latas de óleo, garrafas pet, etc. Fazíamos também pequenos animais de barro. Lembro que meu primo tinha muitos “brinquedos de verdade”, enquanto eu não tinha nenhum, por isso acho que tinha inveja dele...
                Por ser o mais novo, eu sempre levava a pior em casa. Quando alguma coisa surgia de bom, de início, nunca era para mim, por outro lado, se algo errado acontecesse, a culpa era minha quase sempre. Ainda por cima, eu tinha que fazer a vontade de quase todos os meus irmãos, não era fácil. E, ai de mim se me opusesse a eles, apanhava imediatamente. Principalmente do meu irmão mais velho, ele se achava o dono de tudo e de todos. Sofri um tanto nas mãos dele.
                Por outro lado, tinha todo o carinho e proteção que uma mãe pudesse dar a seu filho. Sempre que podia, não pensava duas vezes, corria para perto dela ou, em última instancia, me defendia fugindo o mais rápido que desse para o mais próximo possível do meu pai. O que quase sempre funcionava.
                Recordo-me com muito carinho daquela época (próximo aos meus sete anos), pois foi naquele tempo que minha mãe se esforçou para que eu aprendesse a rezar, como todos os outros filhos já haviam aprendido. De início era difícil, me enrolava todo. Mas ela não desistia e, dia após dia, todas às noites antes de dormir, estávamos lá aos pés da cama. Logo eu fui pegando o jeito e, dia a dia, com êxito, consegui aquilo que ela tanto almejava: aprendi a rezar.
                Por sermos uma família grande e morarmos em uma casa pequena, quase todos nós dormíamos em redes que, à noite, eram armadas pelo interior da sala. Mas eu, por ser o filho mais novo, dormia também em uma rede, porém, a minha ficava em lugar especial: no quarto dos meus pais. Recordo-me também que enquanto assistia tevê com os outros, às vezes dormia na sala e no outro dia já acordava no meu lugar. Minha mãe, sempre que eu dormia na sala, me carregava nos braços para o meu devido lugar. No entanto, muitas vezes, ela me levou nos braços enquanto eu fingia estar dormindo. Bons momentos!

“Yo vengo del interior, donde la religión aún es importante. Se álguien pasa en frente a una cruz él habla con Jesús y no siente verguenza de su fé.” Pe.Zezinho
Joel Cícero daSilva, Belo Horizonte, Junho de 2012.

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