A “Experiência” de Deus Em Minha Vida
“Eu vim
de lá do interior, aonde a religião ainda é importante. Lá se alguém passa em
frente da matriz, se benze, pensa em Deus e não sente vergonha de ter fé.”
Pe.Zezinho
1ª
PARTE: A Minha Primeira
Infância (do nascimento aos sete anos de idade)
Para relatar como se deu a “experiência” de Deus em minha vida,
preciso fazer um grande esforço, pois ela começa há vinte e três anos. Para
isso, peço a ajuda Dele, que tudo sabe, pois como poderei “voltar ao passado”
sozinho e sem o auxilio Daquele que me acompanha em cada passo que dou? Então
vamos lá!
Fevereiro de 1989, o cenário é um pouco diferente daquele que a
maioria das pessoas esperam, pois minha vida se passou quase por completa, em
um ambiente que, até hoje, para a grande maioria, é visto como uma área
inferior (em todos os aspectos) à cidade. Cresci na zona rural.
Foi lá no Sítio Mocós, município de Calçado que, Maria do Carmo Gomes
da Silva, hoje aos sessenta e seis anos de idade, conhecida por todos como “Môcinha”,
saía de casa às pressas em direção à maternidade de Canhotinho (cidade situada
na região agreste, no interior de Pernambuco) para dar à luz ao seu décimo
segundo e penúltimo filho (sendo eu o oitavo daqueles que, com a graça de Deus,
vieram então a sobreviver).
Daquela época pouco sei e, por isso, pouco posso relatar. Para mim,
essa é uma experiência nova e desafiadora, pois minha família, mesmo sendo um
pouco grande, não tem sempre o costume de contar histórias relatando o seu
passado. Tampouco costumava registrar momentos através de fotografias (minha
mãe conta que naquela época, tirar foto era coisa de rico, e nós não éramos e
nem nunca fomos). Às vezes sinto falta desses momentos mesmo sem ter nenhuma
lembrança física para recordá-los, gostaria de saber, por exemplo, como eu era nos primeiros anos de minha
infância. Então, por eu ser o mais
novo da família esse desafio torna-se maior ainda. Mas, apesar de tais
dificuldades tentarei, ao máximo, ser fiel em minhas palavras.
Se hoje em dia a saúde já é precária, imaginem então a nossa situação
há vinte anos e, ainda por cima, na área rural de uma região agreste, no
interior do nordeste. A situação não era fácil. Por isso minha mãe perdeu
alguns de seus filhos e, por pouco, não me perdeu também. Sofri muito nos
primeiros anos. Mas graças a Deus hoje, com algumas marcas físicas do passado,
estou aqui para contar a história.
Minha mãe me conta
que eu era muito doente e que sofria por ter o corpo quase por completo
revestido de feridas. Naquela época era quase normal as crianças não terem
saúde, devido às condições nas quais viviam. Vermes também eram frequentes,
deles trago algumas lembras mentais já comigo.
Creio que as primeiras recordações
que tenho sejam de quando tinha por volta de quatro ou cinco anos de idade.
Então para falar do que se passou nos anos antecedentes, faço minhas as
palavras de Agostinho que no primeiro livro de suas Confissões nos diz: “Deixemos de lado esse tempo; que
tenho eu a ver com ele, se dele não conservo menor vestígio?” (Confissões 1, 7, 12)
Foi por volta
dos cinco anos de idade que entrei na catequese, era bem próximo de casa em um
pequeno salão comunitário. E, por ser um ambiente pequeno, (minha comunidade)
acredito que todas as crianças participavam do catecismo. Lá todos são
católicos, mesmo que seja apenas de nome. Foi uma época muito significante para
mim, lembro até hoje da forma como as catequistas interagiam com a gente.
Enquanto brincávamos e cantávamos, íamos aprendendo aquelas coisas básicas que
todo pequeno cristão deve saber. Era só alegria. Quanta saudade!
Com cinco
anos de idade eu ainda não estudava, nem trabalhava. Não lembro bem o que fazia
durante a semana, acho que ficava em casa assistindo, talvez. Os finais de
semana eram os momentos que tínhamos para visitar os familiares (padrinhos,
tios, etc.), então às vezes eu acompanhava minha mãe nas tardes de domingo.
Quando não saia com ela, certamente estava brincando com alguns vizinhos, estes
eram meus amigos.
Recordo com
muito carinho de toda a minha infância, acho que ela foi completa, me divertia
muito. Na minha turma ninguém brincava de videogame não, acho que nem sabíamos
o que era isso. Nossas brincadeiras eram pega-pega, esconde-esconde, bolinha de
gude (que chamávamos de “chimbre”), tomar banhos de chuva, subir em árvores
para comer seus frutos (que na maioria das vezes fazíamos escondidos dos seus
donos. Lembro que aqueles frutos eram muito atraentes e apetitosos, não eram
como os frutos que Agostinho fazia questão de roubar somente pelo prazer de pecado),
etc.
Ah! Lembro
também que não tinha carrinhos de brinquedo naquela época, mas nem por isso nos
faltava diversão: dávamos um jeito de improvisar alguns brinquedos com o que
tínhamos por perto, como latas de óleo, garrafas pet, etc. Fazíamos também
pequenos animais de barro. Lembro que meu primo tinha muitos “brinquedos de
verdade”, enquanto eu não tinha nenhum, por isso acho que tinha inveja dele...
Por ser o
mais novo, eu sempre levava a pior em casa. Quando alguma coisa surgia de bom,
de início, nunca era para mim, por outro lado, se algo errado acontecesse, a
culpa era minha quase sempre. Ainda por cima, eu tinha que fazer a vontade de
quase todos os meus irmãos, não era fácil. E, ai de mim se me opusesse a eles,
apanhava imediatamente. Principalmente do meu irmão mais velho, ele se achava o
dono de tudo e de todos. Sofri um tanto nas mãos dele.
Por outro
lado, tinha todo o carinho e proteção que uma mãe pudesse dar a seu filho.
Sempre que podia, não pensava duas vezes, corria para perto dela ou, em última
instancia, me defendia fugindo o mais rápido que desse para o mais próximo
possível do meu pai. O que quase sempre funcionava.
Recordo-me
com muito carinho daquela época (próximo aos meus sete anos), pois foi naquele
tempo que minha mãe se esforçou para que eu aprendesse a rezar, como todos os
outros filhos já haviam aprendido. De início era difícil, me enrolava todo. Mas
ela não desistia e, dia após dia, todas às noites antes de dormir, estávamos lá
aos pés da cama. Logo eu fui pegando o jeito e, dia a dia, com êxito, consegui
aquilo que ela tanto almejava: aprendi a rezar.
Por sermos
uma família grande e morarmos em uma casa pequena, quase todos nós dormíamos em
redes que, à noite, eram armadas pelo interior da sala. Mas eu, por ser o filho
mais novo, dormia também em uma rede, porém, a minha ficava em lugar especial:
no quarto dos meus pais. Recordo-me também que enquanto assistia tevê com os
outros, às vezes dormia na sala e no outro dia já acordava no meu lugar. Minha
mãe, sempre que eu dormia na sala, me carregava nos braços para o meu devido
lugar. No entanto, muitas vezes, ela me levou nos braços enquanto eu fingia
estar dormindo. Bons momentos!
“Yo vengo del interior, donde la religión aún es importante. Se
álguien pasa en frente a una cruz él habla con Jesús y no siente verguenza de
su fé.” Pe.Zezinho
Joel Cícero daSilva, Belo Horizonte, Junho de 2012.
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