A Igreja Católica, à luz da consciência
de sua missão de anunciar o Evangelho da vida, assume o compromisso
essencial com a caridade e a justiça. A caridade, coração da experiência
da fé, não pode jamais ser dissociada da justiça. Sua autenticidade se
comprova pelo permanente respeito e empenho para a efetivação de tudo o
que é justo. Óbvio se torna que todos os que professam a sua fé em
Cristo Jesus, cultivando a sua condição cidadã, têm responsabilidades e
compromissos com a política. A arte da política é instrumento de busca e
efetivação da justiça.
O compromisso cidadão de participar na
política agrega ao horizonte dos que creem os parâmetros e princípios da
fé. Na vivência dos valores do Evangelho de Jesus Cristo, brota uma
moralidade indispensável na prática política que tem força para correção
de rumos e propriedade para importantes contribuições. Qualifica,
assim, todos os ordenamentos - a área econômica, social, legislativa,
administrativa e cultural - na busca pelo bem comum. A participação na
política é, portanto, um direito e um dever. E esse compromisso de
participar se fortalece com a fé.
O bem comum se alcança quando a justiça é
assumida como virtude, gerando uma força moral sustentadora que impede a
perda de rumos e promove o respeito a cada pessoa e a toda sociedade,
particularmente ao que se configura como patrimônio público. A
Constituição Gaudium et Spes n.76 do Concílio Vaticano II, iluminando o
caminho da sociedade e a participação cidadã e de fé dos discípulos de
Jesus Cristo, faz uma preciosa indicação para clarear entendimentos: “É
de grande importância, sobretudo onde existe uma sociedade pluralista,
que se tenha uma compreensão exata das relações entre a comunidade
política e a Igreja, e ainda que se distingam as atividades que os
fiéis, isoladamente ou em grupo, desempenham em próprio nome, como
cidadãos guiados pela consciência de cristãos, e aquelas que eles
exercem em nome da Igreja, e em união com os seus pastores. A Igreja,
que em razão de sua missão e competência, de modo algum se confunde com a
sociedade nem está ligada a qualquer sistema político determinado, é,
ao mesmo tempo, o sinal e salvaguarda da transcendência da pessoa
humana”.
As devidas distinções são importantes
para se tecer adequadamente a dinâmica da vivência da fé na comunidade
eclesial e o exercício da própria cidadania sem jamais perder o
horizonte largo e límpido que o Evangelho desenha. O entendimento lúcido
da experiência da fé e o nobre sentido do que é a política, conforme
indicado no Concílio Vaticano II, impulsionaram a formação dos grupos de
fé e política. Trata-se de uma rede com a desafiadora meta de ajudar os
cristãos na vivência de sua cidadania civil e de sua cidadania
eclesial, marcadas pelos valores do Evangelho e pelos compromissos daí
decorrentes. Isso significa um olhar sobre a realidade capaz de promover
o sentido da solidariedade e sua vivência, fazendo diferença nas
dinâmicas que configuram os rumos da sociedade contemporânea.
Os grupos de fé e política cumprem uma
imprescindível tarefa educativa e prestam um serviço qualificado, acima
de simples interesse partidário. Exercem a cidadania à luz do Evangelho.
Eles são uma efetiva possibilidade de corrigir descompassos notados na
sociedade quando se confunde a relação entre fé, religião e política,
especialmente no que diz respeito a instituições e eleições. É
lamentável quando se fala de bancada confessional. Um parlamento se
configura por razões políticas nobres e cidadãs. Jamais por interesses
cartoriais de grupos religiosos.
Os que exercem cargos importantes em
instituições, têm responsabilidades e participam da vida cidadã, devem
fazer do seu testemunho de fé um raio luminoso. Grupos de fé e política
não são reforço partidário e ideológico. Constituem-se em espaços
educativos que animam a cidadania à luz da fé, oferecendo contribuição
indispensável à sociedade. Em comunhão com outras comunidades eclesiais
pelo Brasil afora, a Arquidiocese de Belo Horizonte já tem tradição em
investir na formação desses grupos, por meio de seu Núcleo de Estudos
Sociopolíticos (Nesp), da PUC Minas e do Vicariato Episcopal para a Ação
Social e Política. Vivencia assim, como compromisso de fé, a
qualificação no exercício da política.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
copiado de: www.cnbb.org.br
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