A “Experiência” de Deus Em Minha Vida
“Eu vim
de lá do interior, aonde a religião ainda é importante. Lá se alguém passa em
frente da matriz, se benze, pensa em Deus e não sente vergonha de ter fé.”
Pe.Zezinho
2ª
PARTE: A Minha Segunda Infância (dos oito aos doze anos
de idade)
Aos oito anos eu já trabalhava
na roça, isto na parte da tarde, pois durante a manhã, eu ia à escola que
ficava bem próxima à minha casa. Minha professora, naquela época, era minha
irmã mais velha (Maria José), ela foi quem me ensinou a ler e a escrever. Por
ser irmão da professora nem sempre era poupado dos castigos, que eram
frequentes naquela época, apesar de ser um dos alunos mais aplicados da sala. A
escola era à moda antiga: com apenas uma sala de aula onde a professora (minha
irmã) dava conta de lecionar para alunos de duas turmas diferentes. Era uma
zorra total, mas, na medida do possível, ela ia dando conta do recado. Nos
recreios não faltavam brincadeiras, brigas e muita diversão.
Naquela época, fins da década de
noventa, eram muito fortes as práticas devocionais, como a reza do terço
mariano que eu sempre ia, mas que nem sempre participava porque adorava ficar
do lado de fora do salão brincando com as demais crianças da comunidade; a
celebração da Semana Santa, que não é tão intensa como aqui em Bh, mas há um
costume no qual toda sexta-feira santa o povo se reúne para a tradicional
procissão, encerrando assim as vias-sacras que são rezadas no decorrer da
quaresma, nas tardes de sábado; as novenas de natal, celebrada nas casas das
famílias e encerradas com clima festivo onde eram feitas apresentações
teatrais, que algumas vezes eu participava, relatando o nascimento do menino e
Jesus ou cantando músicas de natalinas, por exemplo.
Acho que conseguíamos celebrar o natal no seu verdadeiro sentido, que
é estarmos juntos celebrando o do nascimento de Jesus. Outras figuras, como a
do Papai Noel, faziam parte apenas do nosso imaginário ou daqueles especiais de
fim de ano apresentados pela TV.
Nas noites de natal e vésperas
de ano novo há uma missa tradicional (até hoje) em uma comunidade vizinha à
nossa, onde muitos participam. A capela chega a lotar. Sempre fui com os meus
pais e às vezes íamos á pés mesmo (uns trinta minutos de caminhada). Quando era
criança lembro que durante a missa cochilava no colo da minha mãe, mas logo
tinha que despertar para voltar caminhando (morria de medo daqueles caminhos
escuros, daquelas encruzilhadas), porque nem sempre conseguíamos carona para
voltarmos para casa.
Quando eu tinha cerca de nove
anos veio a falecer a mãe do meu pai (a única avó que eu cheguei a conhecer).
Lembro-me dela como muito carinho, era uma senhora muito boa. Nós não tínhamos
o costume de chama-la de vó, pois todos a conhecíamos como Madrinha Pixila.
Minha vó materna morreu cerca de dez anos antes do meu nascimento. Gostaria
muito de tê-la conhecido, dizem que era uma ótima pessoa e que se parecia muito
com a minha mãe. Brinco com minha mãe dizendo que quando eu morrer quero que
ela e sua mãe venham me buscar, pois só assim eu terei o prazer de conhece-la. Meu
avô paterno faleceu, também, antes do meu nascimento e o pai da minha mãe
contam que eu ainda tinha dois anos de idade e que chegou até a me carregar no
colo, seu Manoel Gomes, assim como seu Joaquim Bernado foram figuras marcantes
na vida de muita gente daquela região, lamento por não os ter conhecido
pessoalmente. Que Deus os tenha!
Em 1999, nossa comunidade se
despedia de uma jovem chamada Edilene que deixava sua casa para se juntar às
irmãs Clarissas Franciscanas (hoje ela vive em Lima, Peru). Aquele fato seria
apenas um entre outros chamados vocacionais que se desabrochariam, com o passar
do tempo, no coração de outras pessoas.
No ano 2000 passei a estudar na
cidade, junto com o meu tio que, tempos mais tardes, ingressaria no seminário
dos redentoristas. Apesar de ser uma escola simples e pública, estudar na rua
era, para mim, um salto muito grande. Fazíamos a festa dentro do ônibus no
percurso até a cidade, era muito divertido. Algumas vezes o ônibus quebrava na
estrada em outras não conseguia subir a ladeira na época de inverno devido à
grande quantidade de lama nas estradadas, por isso passávamos a ir de caminhão.
Era uma bagunça, mas era muito divertido. Naquele mesmo ano minha irmã mais
velha começava seu curso de pedagogia.
Neste período algumas Irmãs
Religiosas, começaram a frequentar a minha casa, eu ainda não sabia e nem
procurava saber o porquê de tudo aquilo.
No início de 2001, meu irmão
mais velho, após concluir o 2º grau do ensino médio, decidiu sair de casa para
viver em Fortaleza, em busca de condições de uma vida melhor. Acho que foi
nessa época que, pela primeira vez, me convidaram para fazer uma leitura na
missa, tremi feito vara verde, mas fui. Era este o início de uma vida como
membro ativo daquela comunidade que, a cada terceiro domingo do mês, se reúne
para juntos celebrar a Eucaristia.
Minha infância foi vivida por momentos que, tenho toda certeza,
dinheiro nem riqueza nenhuma no mundo poderia comprar e muito menos substituir.
“Yo vengo del interior, donde la religión aún es importante. Se
álguien pasa en frente a una cruz él habla con Jesús y no siente verguenza de
su fé.” Pe.Zezinho
Joel Cícero daSilva, Belo Horizonte, Junho de 2012.
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