A festa que celebramos hoje – a conversão de São Paulo – é de grande importância no calendário litúrgico de nossa igreja. Lembra um dos acontecimentos mais importantes da história da Igreja. É a este apóstolo, aliás “Apóstolo” por excelência que a Igreja deve a iniciativa da evangelização dos pagãos e também a primeira formulação teológica do cristianismo.
Ordinariamente, os santos de nossa Igreja são celebrados na data de sua passagem para a eternidade, representando seu nascimento para a nova vida. Neste sentido, temos a festa do martírio de São Paulo, juntamente com São Pedro, no dia 29 de junho. A alguns santos como a São Pedro, que tem a festa do martírio e da Cátedra, São João Batista, que tem a festa do nascimento e do martírio, a Igreja celebra mais de uma vez. É o caso de Apóstolo Paulo, que celebramos em sua conversão e em seu martírio.
A conversão de São Paulo está narrada nos Atos dos Apóstolos, no capítulo 9. Embora seja um pouco extenso, é importante lermos a narração apresentada por São Lucas:
Saulo, porém, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote, e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, caso encontrasse alguns do Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. Mas, seguindo ele viagem e aproximando-se de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu; e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te cumpre fazer. Os homens que viajavam com ele quedaram-se emudecidos, ouvindo, na verdade, a voz, mas não vendo ninguém. Saulo levantou-se da terra e, abrindo os olhos, não via coisa alguma; e, guiando-o pela mão, conduziram-no a Damasco. E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu. Ora, havia em Damasco certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! Respondeu ele: Eis-me aqui, Senhor. Ordenou-lhe o Senhor: Levanta-te, vai à rua chamada Direita e procura em casa de Judas um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando; e viu um homem chamado Ananias entrar e impor-lhe as mãos, para que recuperasse a vista. Respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e aqui tem poder dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome. Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome perante os gentios, e os reis, e os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome. Partiu Ananias e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, enviou-me para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. Logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista: então, levantando-se, foi batizado. (At, 9, 1-18).
Nesta narração fica claro como se deu a conversão do Apóstolo. Não foi, e podemos ver isso lendo suas cartas, uma conversão simplesmente de palavras ou de sentimentalismos. Alguém que perseguia os cristãos, por ser um judeu zeloso, assume essa maneira de viver a ponto de entregar toda sua vida à propagação do Evangelho de Jesus e, no fim, derramar seu sangue por esta causa. Daí é fácil concluir que essa conversão mexeu profundamente com o ser de Paulo. E é sempre bom ressaltar que esta conversão não foi somente milagre. Depois do encontro de Damasco, Paulo se retirou por um grande período antes de iniciar sua vida de pregador e fundador de comunidades cristãs.
Esta festa quer nos lembrar, evidentemente, a importância que São Paulo teve na formação e na história daquilo que hoje entendemos como Igreja. Todos, especialmente aqueles que assumem algum serviço na comunidade, devem olhar para o Apóstolo e se deixar tocar por seu exemplo de ardor apostólico e de busca da santidade. Paulo nos ensina qual deve ser nossa busca: “Vivo, mas não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim”. (Gl 4,20)
É impossível, falando-se tanto de conversão, não pensar em nossa própria conversão, ou melhor, na constante necessidade de conversão que cada um temos. Não falamos de momentos isolados ou “miraculosos”, mas de ações cotidianas e contínuas. Necessitamos nos converter um pouco a cada dia se quisermos, verdadeiramente, seguir de perto ao Mestre que nos chama incessantemente.
Que o exemplo de São Paulo nos motive a buscarmos sempre mais estar perto de Deus, levá-lo aos outros e, se preciso, entregarmos nossa vida por causa do Cristo.
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